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Se eu tivesse tomates era mais feliz?





Beautiful Heirloom Tomatoes

Juro que a culpa não é minha, mas quando puxam por mim dá nisto. Começou tudo com o post da Ana no qual ela dissertava sobre a falta de coragem - tomates, sejamos francos - para ser feliz. Comentei e a propósito disso houve resposta, que foi mais um desenvolvimento do que outra coisa, mas o giro disto tudo é que andamos para aí rua fora a ver o nosso reflexo nas montras e a fazer de conta que é tudo por uma boa causa, quando na verdade, a principal boa causa somos nós. E normalmente, somos os últimos da lista.
Trocado em miúdos, passa-se o seguinte: trabalho e sempre trabalhei. Nunca tive o azar de estar desempregada, mas também nunca tive a sorte de trabalhar no que gostava. O que faço não está nada relacionado com o que estudei - sim, estudei e formei-me no que quis - mas logo que acabei o curso, como tantos outros, encarneirei. Encarneirar, no sentido do "tenho mas é de ir trabalhar, porque não tenho lata de viver à conta dos Pais ou de qualquer outra entidade seja ela inferior ou superior". E assim tem sido, até aos dias de hoje. E agora - bolas, não é de agora, isto já me passa pela cabeça há muito tempo - se me apetecesse mandar tudo às urtigas, ficar em casa a trabalhar para este blog ou a fazer outra coisa que realmente me realizasse? Sabem quando os dias de trabalho são tão maus que o único desejo que temos é trabalhar numa qualquer loja de shopping a arrumar prateleiras? Essa sou eu, dia sim, dia sim, excepto fins de semana em que consigo desligar a tomada.
Gostava, a sério que gostava, de ser daquelas pessoas que acordam um dia de manhã e mandam tudo às urtigas. Fazem a mochila e tiram um ano sabático para ver os crocodilos em Katmandu. Mas não consigo porque outros valores mais altos se levantam. Há uma casa para aguentar e não era justo deixar essa tarefa nas costas de um só, há uma criança, há despesas. Há os meus "luxos" e não tenho lata de pedir a ninguém que mos pague. Mas também há a minha saúde mental - ia jurar que entraram dois senhores de bata branca no jardim, neste preciso momento - que acaba por prejudicar a saúde mental de quem me rodeia e que passa facilmente para saúde física por esta história do ser psicossomático tem muito que se lhe diga e eu acredito piamente.
Ou seja, tenho de continuar a trabalhar, a dar cabo de mim simplesmente porque não tenho tomates de enfrentar o touro pelos cornos ou porque os outros merecem todos os sacrifícios que eu faça para que não lhes falte nada? Ainda não sei, mas tenho a noção de que isto vai ter de mudar. Não pode ser já o que é uma pena, mas vai ter de mudar. E à Ana, com quem um dia destes irei beber uns copos e comer salada de tomate, agradeço-lhe do fundo do coração ter feito com que eu falasse de um assunto de que nunca tinha falado com ninguém. Porque é suposto encarneirarmos e pronto (e, por favor, não me venham com a conversa do oh-que-sorte-que-tu-tens-porque-tens-um-emprego, porque não é disso que estou a falar).

Imagem de abrowntable

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  1. Respostas
    1. Somos todos uns insatisfeitos, é o que é, mas o que me lixa é que disfarçamos bem!!

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  2. Querida Ana,
    Permite-me discordar da quase totalidade das tuas palavras.
    Não te conheço e portanto o julgamento que possa fazer será sempre infundado.
    Ainda assim, se não foi um processo cirúrgico o emcarneirar, o desencarneirar também não o será. Não só por não ser justo mas também para não ser doloroso.
    Podes começar devagar, devagarinho e verás que aos poucos pequenas mudanças acontecem, até estares preparada para a grande mudança que te vai parecer mais uma pequena e que te vai obrigar a assumir o comando da tua vida de volta outra vez.
    Digo eu que adoro a vida que tenho é sei o quão é difícil não fazer parte da manada!

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    1. Eu não disse que não o faria, aquilo que realmente me preocupa é o facto de haver outras coisas que dependem deste meu encarneiramento :). As mudanças por pequenas que sejam têm de ser feitas para que se chegue à grande mudança... A chatice é que nós queremos tudo para ontem, percebes?? :) Beijinhos!

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    2. Claro que percebo!
      Mas a paciência também se exercita e é um dom que pode dar muito jeito na vida.

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    3. Oh sim...a paciência.... e quando ela se cansa? :D

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  3. Eu adoro o que faço, e tu sabes isso melhor do que ninguém. No entanto, neste momento, faço o que verdadeiramente gosto... num sítio que detesto! Se tivesse tomates desopilava daqui para fora? SIM, fazia-o sem qualquer esforço? Abarcava uma coisa diferente, mesmo sendo algo oposto ao que faço agora?... fazia-o!!! Sim, faço vinte anos de curso dentro de dias, trabalho por vocação naquilo que gosto desde que me formei, e mudava tudo assim de repente se surgisse uma oportunidade de simplesmente sair deste antro...

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    1. Bem te entendo... Isso faz lembrar o "gosto de ir à escola mas detesto ir às aulas!" e no meu caso é diferente, ou seja, trabalho com uma equipa fantástica, mas não suporto o que faço!!! :P

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  4. Também ando a pensar nisto há uma série de tempo; de repente, parece que todos questionamos a escolha que fizemos há uns 15/20 anos atrás, e procuramos uma vida mais simples, mais nossa e mais criativa. Será um novo tipo de crise de meia-idade? Ou simplesmente agora já equacionamos não fazer o mesmo a vida toda e ir experimentando outras coisas pelo caminho, o que há 1 geração atrás nem se colocava?
    E concordo com comentários anteriores, para quem não se pode dar ao luxo de arriscar tudo, há que construir a mudança aos poucos.

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  5. Essa é outra questão que me tem passado pela cabeça: será que a geração anterior também passou por isto? Ou será que isto, para além de crise da meia idade, é fruto de termos acesso a demasiadas coisas, o que não acontecia há uns anos? E sim, as mudanças devem ser feitas com calma que é coisa que eu menos tenho! :)

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  6. Obrigada pela partilha Ana! Havia tanto para dizer sobre isto...sinto-me mais ou menos como tu. Formei-me numa área - mas cedo descobri que não me identificava com o que me queriam meter a fazer e troquei. Hoje gosto do que faço mas também gosto de fazer outras coisas e principalmente ambiciono trabalhar para mim e não para os outros, seja a fazer o que for. Sei que para isso tenho de arriscar, mas para chegar aí, preciso de ter tempo para dedicar aos meus projectos e perceber que caminho devo seguir. E tempo é coisa que não há! E coragem para dar o salto mortal à retaguarda e pirar-me de vez, também não. Por isso tenho-me deixado ficar em banho-maria, à espera que chegue o momento quando devia era criar o momento. Deviam existir formações sobre e para isto, não? beijinho :)

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    1. Podes ir trabalhando no assunto - que eu faço, mas não tanto quanto gostaria - e quanto a formações, podes arranjar um lifecoach!!! :D Beijinhos!

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  7. Ai, Aninhas, tem custos, tem... isso de mandar tudo para o ar, com tomates ou não, porque por vezes, somos obrigados a fazê-lo, mesmo sem querermos, mas tem muitas mais valias, no fundo o desgaste que se sofre diariamente a fazer aquilo que não se gosta e que não se pode com, é muito complicado e por vezes nem vale tanto assim a pena, por vezes, com menos conseguimos realizar uma realidade inabalável: sermos felizes e começar de novo, se correr mal, já não corria bem antes. Se correr mal, pelo menos tentámos. Se correr mal... bolas, tivemos tomates para o fazer! Claro que é fácil falar quando o bater de porta nos é imposto, mas agora não voltava atrás :).

    PS Eu sabia que tu ias gostar da outra Ana! "Vistes"? :D

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    1. Ah pois foi, foste tu que me falaste da Ana!!! :D E gostei dela, sim.
      Quanto ao resto, há dias em que até pedia um empurrão forçado, assim não teria de dar tantas explicações a gente que não vai perceber metade do que digo. Cansa-me e ainda nem comecei!

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  8. Olha Ana eu acho que deverias mesmo arranjar os tomates e partir para a mudança porque viver em modo sobreviver não dá com nada, tas a perder anos de vida, anos de felicidade. Compreendo que tenhas coisas pendentes e que não possas largar tudo para o tal ano sabatico mas e que tal um mês sabatico nao consegues tirar? Ou vá 2 semanas? Assim só para ti, num lugar distante que te faça refletir sobre a vida e o que fazer para ficar melhor? Voltarias cheia de energia e com grande vontade de mudar :)

    Acredito que trabalharmos naquilo que não gostamos seja desmotivador e frustrante mas não o tens de fazer! Só dentro de ti é que estão as respostas, força nessa caminhada!

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    1. É uma óptima ideia, Marta, essa do "retiro". Já pensei nisso mais de uma vez e se calhar ainda faço. Obrigada pelo teu apoio!!

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  9. Gostei muito deste post. Lá está, não sei se é uma espécie de crise de meia idade ou o raio mas também eu ando saturada com a minha vida profissional, as escolhas que fiz quando tinha 20 anos já não me preenchem agora com quase 40. Mas lá está, tenho duas filhas pequenas e não me posso dar ao luxo de tirar o tal ano sabático e simplesmente despedir-me.
    No entanto olho para a minha vida e penso sobre o que gostaria de fazer com as "cartas" que tenho, penso em projectos reais, exequíveis a médio/ longo prazo e penso que sim é possível encontrar o pote de ouro no fim do arco-íris mas até lá acho que também é importante usufruirmos do caminho até lá chegarmos, vivendo o presente de forma inteira.
    Beijinhos e uma boa semana

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    1. Sim, pelo menos se olharmos à volta haverá sempre alguma coisa que nos dá prazer fazer, que nos tira a cabeça do que não gostamos e até pode ser que com isso se faça o caminho da mudança. Boa semana!!

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  10. Não é facil qualquer decisão, seja porque te sacrificas a ti, seja porque sobrecarregas (plo menos transitoriamente) os outros. De qualquer forma, se souberes o que realmente gostavas de fazer e de que forma podia ser, se não rentável, plo menos sustentável, já é um princípio para poderes ponderar "desencarneirar" sem peso na consciência ;)
    Plo que conheço de ti, não será por falta de tomates ;)

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Eu sei que comentar é uma chatice, mas adoro saber as vossas opiniões. Obrigada!!